terça-feira, 26 de abril de 2011

Ser drag queen: fantasiar-se de si mesma

Uma fantasia de si mesma, um eu sem centro”. Foi assim que Arnaldo Jabor definiu Carmen Miranda, de quem a famosa drag queen Ru Paul, ao chegar ao Brasil, afirmou ser filha. Se Carmen e sua coroa tutti-frutti não foram as inventoras da drag queen moderna, sem dúvida, contribuíram com um dos mais decisivos elementos para a formação dessa identidade simultaneamente delimitada e fluida – a ambiguidade. Material bruto do qual o transformista extrai sua performance e matéria-prima da própria performer, que não circunscreve sua arte ao palco: sua verdadeira performance passa a ser sua própria existência, uma ode à ambivalência cantada pela drag queen, uma poetisa da práxis de ser ambígua.

A invenção da Drag Queen

Fenômeno do início da década de 70, as drag queens beberam na fonte dos gender fuckers norte-americanos. Esses artistas da vanguarda do movimento de libertação homossexual, com barba no rosto, pelos no peito, maquiagem e vestes de mulher, pretendiam dissolver as fronteiras entre masculino e feminino por acreditarem que tal divisão é apenas cultural. No Brasil, essa expressão atingiu seu ápice com os Dzi Croquettes. De bigode, meiões de futebol, sapatos de salto e sutiãs, esse grupo de atores – nem homens, tampouco mulheres – afrontava o conservantismo moral que atingiu seu paroxismo durante o regime militar. Nesse mesmo período, um personagem circulava quase que clandestinamente pela sociedade: Norberto Chucri David ou Laura de Vison, uma das precursoras do transformismo moderno.
Duas décadas depois, irrompe a histriônica figura da drag queen: pesada maquiagem, figurino carnavalesco, seios e nádegas de espuma, humor de navalha e maneiras que beiravam o cartum. Dos inferninhos subterrâneos, esses personagens galgaram posições na sociedade e conquistaram trânsito livre, da grande imprensa aos comitês de partidos políticos. Figuras de grande apelo popular, quando não cabos eleitorais, as drag queens eram as próprias candidatas a cargos públicos.

“Odeio bater cabelo”

Ser mulher, ser travesti, ser drag queen. “É uma linha bem tênue, mas existe, sim, uma diferença. A travesti é mulher 24 horas por dia. É uma questão mais psicológica do que física. Drag queen é um homem que se veste de algo que não é nem homem nem uma mulher”, tenta me explicar Matheus. Há quase 15 anos ele enfrenta uma rotina de ensaios, maquiagem e troca de figurino para encarnar Alexia Twister em clubes noturnos de São Paulo. Chega a fazer cinco apresentações por noite. “Você se enfeia demais para ficar linda no palco. Eu não tenho mais sobrancelhas; a peruca deixa buracos no cabelo”, revela, tirando o boné para mostrar falhas no couro cabeludo. “Às vezes penso que as pessoas gostam mais de mim montada do que desmontada; gostam mais de mim menina do que menino. Se você não tiver na cabeça que isso é um papel, um trabalho, você acaba sendo mulher o tempo todo”. Durante a entrevista, Matheus usa “ela” para se referir à Alexia; depois, passa a falar de si mesmo no feminino, como se o en¬trevistado fosse agora o personagem e não mais o intérprete. “A Alexia é muito diferente de mim. Eu sou tímido; ela é ousada. É engraçado falar de mim como outra pessoa, porque acaba sendo eu, na verdade.”

As fronteiras sexuais dissolvidas 

E se não é mais possível falar em identidades definidas, também não é possível falar em ser homem ou mulher, hétero ou homossexual. “Houve um show em que num determinado momento eu beijava uma bailarina. Foi um choque. O que era aquilo? Uma travesti beijando uma mulher? Como definir isso? Acho que essa é a mensagem: não defina, não rotule. Você não tem que ser hétero, gay ou bissexual”. Não obstante, Matheus afirma que existe uma pressão das boates que exigem dos transformistas uma performance o mais próximo possível do que foi definido como feminino: “Quando comecei, era o exagero a caricatura. Hoje o que se pede é algo mais próximo da mulher. Eu aprendi a bater cabelo. Eu odeio, mas o público adora. Cedo, mas não concordo. Seria mais interessante se o publico pudesse assistir a uma drag com um ganso na cabeça, ou com uma roupa toda feita de chinelo havaiana. É interessante, mas não é comercial”. Porém, se o público é de maioria hétero, a demanda é outra: “Sempre pedem a drag queen colorida, com cara de Bozo. Como alguém já disse, o povo quer um palhaço de luxo”.

Uma multiplicidade de eus interpenetrados 

Diante de uma diversidade de identidades que se multiplicam numa projeção em abismo, como definir a figura da drag queen? Matheus tenta: “Ser drag queen é ser uma personagem que tem a possibilidade de viver várias outras personagens. Nunca sou uma só. Tenho várias mulheres dentro de mim.” Sendo assim, o autor dessas linhas ousa discordar de Arnaldo Jabor: Carmen Miranda podia ser um eu sem centro, mas esses indivíduos que abdicaram do gênero – por considerá-lo datado, antigo, last week – são mais que isso. Uma multiplicidade de eus que se interpenetram, ignorando convenções, sejam elas da sociedade, do corpo ou da mente. Uma legião de personas que fogem ao inútil esforço de se estabelecer uma precária geografia da sexualidade humana.

Porque é DIFICIL ser Drag Queen no Brasil??? [o.Õ]

O Brasil é um país de cultura diversificada e gigantesca, mas quando se trata de homossexualismo, transexuais e Drag Queens, os brasileiros se tornam até ignorantes em muitos aspectos.
È por isso que muitos homossexuais e ate os que não são dizem porque é difícil ser Drag Queen no Brasil, sendo que a profissão é tão bonita e honesta, e o preconceito é a maior barreira para esse trabalho.
Pra você ter uma idéia, na Espanha, uma Drag Queen ganha mais de 2 mil dólares por semana, sendo chamadas ate pra animar festas infantis. No Brasil a maioria trabalham em boates gays, e fazem shows para pouca gente, ganhando menos de 500 reais por semana. É dai eu podemos pensar, onde esta o preconceito, na profissão ou no mal entendimento da sociedade para com essa profissão.