Há 40 anos a aposentada Marina De Maria repete a rotina semanal de ir à manicure. Caminha cinco quarteirões com a ajuda de uma bengala. Chega ao salão da amiga Dóris – sim, elas já se consideram amigas depois de décadas de convivência – e passa ali pelo menos uma hora. Aos 83 anos, não pretendo seduzir ninguém com minhas belas unhas pintadas, mas continuar a me achar bonita, mesmo que a pele tenha perdido o viço e os cabelos já estejam brancos há anos, gargalha Dona Marina.
A vaidade é tão importante para a saúde na terceira idade quanto exames periódicos e exercícios físicos, dizem os especialistas. Cuidar-se significa manter a própria dignidade, defende a psicóloga Julieta Dirce, do Hiléa, centro para tratamento e moradia de pessoas idosas, em São Paulo. Para o chefe do departamento de Geriatria do Hospital das Clínicas, Wilson Jacob, o cuidado com a aparência é fundamental para a saúde dos idosos porque está associada à saúde psicológica. Ao cuidar-se, a pessoa com mais de 60 anos lembra que ainda está no mundo embora, muitas vezes, esteja aposentada, com filhos criados e sem o viço físico da juventude, o que é natural.
Para a cabeleireira Vanda Maria Brusca, que há 35 anos atende homens e mulheres idosos em seu salão, cortar os cabelos é uma oportunidade que suas clientes têm de manter a vida social. Muitas vezes, minhas clientes mulheres são viúvas, moram sozinhas ou com uma acompanhante e vêem ao salão para encontrar amigas, papear com as funcionárias, sair de casa. O que observo é que a vaidade é um ponto de contato com o mundo, diz a profissional.
Para o médico Wilson Jacob há uma sinceridade poética quando o idoso se cuida. Uma modelo de 20 anos pode parecer bela e estar com a saúde comprometida. No caso do idoso, uma plástica facial ou uma lipoaspiração não se sustenta se não tiver uma pele hidratada, um corpo cuidado. Quando decide se cuidar, sabe que só terá efeito externo se for de dentro para fora.